A nossa
capacidade de comunicação com os sentimentos das pessoas é muito maior do que
nos damos conta.
Constantemente ocupados com muitas tarefas, na maior parte do tempo
mantemos a mente cheia de pensamentos, preocupações, lembranças, planos, sempre
presentes, tornando nossa mente sobrecarregada. Os pensamentos bons e ruins
estão sempre lá, tirando de nós a possibilidade de viver o presente de uma
forma consciente. Por isso a nossa intuição fica limitada e obstruímos nossa
capacidade de sentir com profundidade o que está em volta de nós.
Recentemente
vivi uma situação que vou relatar como exemplo.
Em uma quarta-feira me preparei para começar
meus trabalhos bem cedo, porém por estar disposta e colocar-me à disposição,
consegui atrair atenção excessiva. Muitas pessoas me procuraram naquele dia.
Novos alunos apareceram no Ateliê e todos eles queriam conversar comigo, tinha
um contrato importante a fechar, resolvi questões da funcionária que estavam
pendentes, saí para compra de equipamentos dirigindo nos intermináveis
engarrafamentos, que hoje são a rotina em todos os centros urbanos, atendi
muitas ligações, meu filho ficou doente e me pediu auxílio, o meu marido
precisava que eu resolvesse sobre o seguro de um carro novo que havia comprado
e ainda tinha toda a minha agenda de aulas a cumprir. Quando resolvi tomar um
banho morno para relaxar o corpo e dormir, percebi o quanto a minha respiração
estava curta e ofegante, embora eu tivesse tentado mantê-la o melhor possível
durante aquele dia, que eu mesma deixei que se transformasse em uma maratona.
Muitas
pessoas que leram esse relato já devem ter pensado o quanto está parecido com
sua vida, ou até que seus dias são bem mais ocupados. Mas esse relato não é
realmente nada diferente daquilo que acontece no mundo atual. A cada dia somos
exigidos a aprender mais e a realizar mais tarefas, de forma eficaz e
organizada. Tornamo-nos verdadeiros robôs e coitados daqueles que não
acompanham o ritmo acelerado. São simplesmente excluídos, considerados
incompetentes e preguiçosos.
Porém,
naquela quarta-feira, apesar de todo dia cheio, me sentia feliz, pois aquele
havia sido um dia muito próspero e apesar do meu filho mais velho ter estado
doente, não era algo grave e ficaria bem. Então após fazer o meu relaxamento,
dormi tranquila.
Ao acordar,
a mente outra vez começou com a inquietação. Ainda deitada comecei a planejar
tarefas, pensando em tudo que poderia fazer. Eram cinco da manhã e eu havia
dormido depois da meia noite, porém, outra vez, já estava com a mente dominando
o meu dia que mal havia começado. Dei-me conta e falei para mim mesma, “tenho
que respirar” e peguei dois livros, entre os que estudo paralelamente, hábito
antigo de descansar da leitura de um livro com outro diferente. Imagino que
você já deve ter feito isso, mas para que dois livros às cinco da manhã? Um já
é mais que suficiente, pois precisamos ler com consciência caso contrário não
refletimos sobre o que estamos lendo. Então, percebi que estava me deixando
levar outra vez.
Parei tudo,
posicionei-me relaxadamente e meditei por alguns minutos focando na respiração.
Para finalizar resolvi ler um pouco as palavras do iluminado mestre, Sua
Santidade, o Dalai Lama. Novamente em frente à pilha de livros que deixo ao
lado da cama, escolhi um com as suas palavras. Abri o livro, lá pelo meio, onde
havia deixado um marcador uns dias antes e lá estava um pequeno texto que
falava sobre a fala sem sentido, onde em breve texto eu li “O pensamento é a
motivação do desejo de falar coisas despropositadas, por falta de vigilância.”.
Mais uma vez ele me dizia o que eu mais precisava na hora correta, apesar
daquelas palavras referirem-se à fala despropositada, fiz a reflexão sobre o
excesso de pensamentos por falta de vigilância e meditei novamente. Senti-me
pronta e adotei para aquele dia a vigilância como tema para mim.
Havia
dormido no Ateliê e resolvi ligar para o meu filho mais novo, que frequenta
faculdade pela manhã usando o meu carro nesse horário, para dizer-lhe que
pretendia sair pela manhã e que seria necessário nos reorganizarmos por causa
do carro. Porém olhei o relógio e resolvi aguardar um pouco porque não estava
no horário dele ainda, então o telefone tocou. Quando atendi Daniel me falou:
- Oi mãe, vai
sair hoje pela manhã?
Dei um largo sorriso e respondi:
- Filho, estamos em perfeita sintonia.
- É somos assim. Mas porque me disse isso?
- Porque acabei de pensar em te falar que quero sair
pela manhã e acho que vou direto com você.
Ele riu e disse:
- Sempre é assim mãe quando estou na rua penso em te
ligar para dizer que estou chegando e de repente, antes de eu conseguir pegar
no telefone, você me liga!
Demos muita rizada e desligamos.
É exatamente
assim que funciona quando aquietamos a mente. Ficamos mais sensíveis,
intuitivos, criativos também. O seu humano precisa resgatar a paz aquietando a
sua mente, respirando mais, sentindo verdadeiramente o seu corpo repleto de
sentidos maravilhosos. Todos que desejam viver com mais saúde, devem praticar a
meditação, a respiração consciente e vigiar a mente.
Beth Soares
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